Pintura de Alexandra Nechita
Qualquer palavra a mais por mim dita, pode correr o
risco de a verdadeira essência não ser descrita nessa mesma palavra. Vivemos um
tempo em que, a avaliação ou selecção de pessoas tem muito que se lhe diga.
Tratando-se de um inequívoco darwinismo social numa sociedade altamente
hierarquizada. Sociedade essa, onde as pessoas são tratadas como meros números
e isso começa a ser mais que evidente no ensino secundário, teremos uma
avaliação quantitativa e não assente na qualidade, onde decorarmos matéria para
um exame específico que no dia seguinte não nos lembraremos de nada. Para não
falarmos nos critérios de correcção que na sua maioria formatam a interpretação
do texto, da pergunta, o que for. Quando existem diferentes formas de ver o
mundo. Nas ciências exactas é que sabemos que só há um resultado possível e
temos de o encontrar. E isto, irá influenciar toda a nossa vida nos próximos 60
anos no mínimo, pois, teremos de ser quantificados segundo certos critérios que
determinará a média que permitirá entrar nesta ou naquela licenciatura, neste
ou naquele mestrado e segue-se o doutoramento pela mesma lógica, cerca de 22
anos passaram desde que nos sentamos muito nervosos pela primeira vez num banco
da escola, onde nos últimos 22 anos passamos cerca de 15 horas por dia e
percebemos que não conhecemos os nossos pais, os nossos amigos e muito menos a
nossa namorada e nós não respeitamos quem não conhecemos.
E caso, não tivéssemos percebido que assim é.
Portugal, um pais de poetas com uma das línguas que melhor poesia dá ao mundo e
que sem qualquer dúvida une milhões em entorno de única pátria, que é a nossa
tão amada Língua Portuguesa, a língua da palavra intraduzível, Saudade. Faz
questão de nos lembrar dessa condição. Quando começamos a aprender a ler
poesia, aprendemos a ler poesia de forma quantitativa ou objectiva e não
subjectiva. Aprendemos a dissecar as obras de Cesário Verde, de Fernando Pessoa
ou simplesmente Os Lusíadas, a contar versos ou figuras de estilo. Tendo-se com
a poesia o primeiro impacto com a economia financeira e com as desigualdades
socias quando temos de observar e quantificar as rimas entre ricas ou pobres.
Mas, se escrevo um poema a uma rapariga que goste e admito, faço-o várias vezes
e, se lhe tento demonstrar o quanto genial sou no uso de rimas bilionárias na
sua riqueza ou de figuras de estilo que Camões, Soares de Passos ou Alvares de
Azevedo jamais ousou pensar e na simplicidade da minha moléstia mensagem não
lhe conseguir transmitir o que verdadeiramente sinto por ela, de que me serve ser
genial, escrever o que ninguém ousou pensar antes de mim… Muito menos me serve,
ser ilustrado na Filosofia, ler Platão ou Kant, quando não consigo descrever na
minha escrita, a sua ínfima beleza e o que por ela sinto. E, ela na sua
genialidade de ser humano nunca mais me dirigirá uma palavra.
Como se tudo isto não chegasse, há o pensamento
pré-socrático, um pensamento de transformação constante, tudo pode mudar da
noite para o dia, que é refletida e observável na obra de Homero por exemplo. Depois
há o pensamento pós-socrático que estabilizou as coisas, temos a noção do nosso
eu, da nossa pequenez, do tempo e do infinito. Dando-se logo de seguida as
boas-vindas a Platão com a vinda da idealização, do modelo a seguir, o amor
platónico é isso mesmo. O seguir no facebook, no twitter, no instagram, no que
for, o que interessa é seguir tendências, sejam boas ou más. E, é este
pensamento que vigora à 2500 anos e que deu origem à religião monoteísta, idolatrar
uma única identidade divina numa sociedade que rapidamente passou de politeísta
para monoteísta, de comunidade, de diversidade para individualista, do culto do
EU e que actualmente está em declínio ou não como defendem muitos catedráticos
de qualquer coisa que agora infelizmente não me recordo mas, de nome pomposo
certamente.
No Século VII, observamos a origem do Islão e no que
inevitavelmente lhe deu origem. Tínhamos o Império Romano e Persa corrompido, a
chamada elite ou a nobreza por ser uma palavra mais lidima, seja escrita ou
dita. À boa vida e o povo, os chamados plebeus, nada tinham e observando a
actualidade nada disto se passa e prova que evoluímos tanto quanto a sociedade
existente no Século VII, sem quaisquer dúvidas que alguém possa questionar.
E, para finalizar e como do passado somos sempre o
seu reflexo. No fim do Século XVIII, um Sociólogo, Economista e Sacerdote
Anglicano chamado Thomas Robert Malthus. Celebrizou-se por uma obra sua, um
Ensaio sobre o Princípio da População, uma obra de sociologia e demografia publicada
em 1798 e, que mais tarde influenciou directa ou indirectamente algumas das
ideias de Keynes. Em que, defendia que a produção de alimentos cresce numa
progressão aritmética, enquanto que a população tem a tendência de aumentar em
progressão geométrica. Explicando o sucedido, uma progressão é uma sucessão de
números, em que, um dos factores depende do anterior sempre pelo mesmo
processo. Ora bem, uma progressão aritmética é aquela que se soma ao número
anterior uma constante, logo uma progressão aritmética é 2, 5, 8, 11, e 14,
porque somando a constante 3 ao número anterior obtém-se o número seguinte. A
progressão geométrica é igualmente uma sucessão de números, onde o número a determinar depende do anterior por
um factor, é um produto, digamos assim. Significando que, o número a determinar
depende do anterior por um factor, que para haver equidade na explicação para
com a progressão aritmética terá obrigatoriamente de ser uma progressão geométrica
de razão 3, assim sendo, temos 2, 6, 18, 54, e 162. Agora vejamos, na
progressão aritmética, de 2 passamos para 14 e é como se multiplicássemos por
7. Na progressão geométrica, de 2 passamos para 162 e é como se
multiplicássemos por 81. Em suma, isto quer dizer que a população cresce
segundo uma progressão geométrica e a produção de alimentos cresce numa
progressão aritmética. Ou seja, a inevitável consequência desta diferença na
proporção das duas progressões, segundo Malthus, será uma crescente miséria na
população, pobreza extrema e fome permanente. Defendendo também, que sempre que
estes problemas chegam no seu estado máximo, a própria natureza intervém, corrigindo-os
por meio de guerras e epidemias, reduzindo desta forma violenta e drasticamente
a população. Curiosamente, na Revolução Francesa o povo pedia comida,
prometiam-lhe pão, mas pão não havia. Hoje, o povo pede comida, prometem-lhe
esperança, mas esperança não há. A falta de ética, de moral, enchem-nos o
pensamento da mais pura hipocrisia existente. Ouvindo-se e lendo-se por toda a
comunicação social que os autores dos atentados de Paris e de Bruxelas são de
bairros mal afamados. Exacto, são de bairros mal afamados e nunca de bairros
pobres, porque a semântica suaviza a mensagem porém, não suaviza a realidade.
Há números que incluem dentro deles muitas pessoas, e coisas que não são quantificáveis em número algum.
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